domingo, 8 de maio de 2011

Sintra exige respeito



Realizou-se recentemente no Centro Cultural Olga de Cadaval uma Assembleia Municipal dedicada exclusivamente à problemática da saúde.
Foram convidados a participar várias individualidades ligadas a esta área, entre eles um actual e um antigo administrador do Hospital Fernando da Fonseca.

Segundo relato que li na imprensa as declarações desses dois gestores hospitalares são no mínimo polémicas e na minha opinião chegam mesmo a ser chocantes.

Ambos consideram que um novo hospital a construir em Sintra não se justifica, quanto muito uma extensão do Hospital Fernando da Fonseca a operar apenas em serviço de ambulatório.
Camas? Que não, porque não há défice de camas no Amadora - Sintra nem esse hospital está a rebentar pelas costuras.

Pelos vistos tudo corre bem no funcionamento do Amadora-Sintra.
E nós a pensar o contrário, enganados que temos sido pelos relatos que frequentemente ouvimos e lemos na comunicação social.

Curiosamente o senhor administrador que garante que o hospital que administra não está esgotado acabou por afirmar mais à frente que em relação ao serviço de urgência, que chega a ter cerca de 700 doentes diários, se está a “querer meter o Rossio na rua da Betesga”, e “que têm uma porta muito estreita por onde tem de entrar tanta gente ao mesmo tempo”.

Então em que ficamos?
O Serviço de Urgência está congestionado e com uma enorme dificuldade para dar resposta às necessidades urgentes da população que serve mas pretende-se encerrar, entre as 0 e as 8 horas, o Serviço de Urgência Básica de Sintra, a funcionar nas instalações da antiga Messa em Mem Martins. Tem pouca procura, é o que alegam.

Se disponibilizarem ali mais serviços principalmente a especialidade de Pediatria, verão que aumentará significativamente o número de utentes que ali se dirigirão em vez de se deslocarem para o Amadora-Sintra onde esperam longas horas antes de serem atendidos.

Sintra precisa e exige uma nova unidade hospitalar, uma reivindicação antiga dos sintrenses e que já foi prometida várias vezes e várias vezes anunciada pelo Ministério da Saúde, mas que tem sido sistematicamente adiada.
O novo hospital de Sintra já foi prioritário, segundo as palavras de um ministro da saúde recente. Foi, mas agora parece que já não é e de prioritário passou a inútil e dispensável.

Em contrapartida, Cascais, que já tinha um hospital a funcionar foi contemplado com uma nova unidade.
Vai haver em breve um novo hospital em Loures, a inaugurar no próximo ano e outro em Vila Franca de Xira.

Só Sintra, um concelho com perto de 500.000 habitantes não justifica um novo hospital.
Uma extensãozinha articulada ao Fernando da Fonseca em regime de ambulatório, ainda vá, mas um novo hospital,nem pensar.

Que generosos que eles são!
Sintra é o segundo maior concelho deste país e o que mais contribui para encher os cofres do Estado com os impostos que paga mas não tem merecido da parte deste a compensação justa em infraestruturas e equipamentos fundamentais para servir as necessidades da população sintrense, em proporção às receitas que entrega ao sorvedouro público.

É uma inaceitável falta de respeito por parte do governo central para com Sintra.
Estamos fartos de ser preteridos em favor de outros concelhos onde habita gente “muito importante” e com mais influência junto do poder.

Os sintrenses parece que só servem para pagar impostos, mas se punissem com a sua melhor arma, o voto, aqueles que nos desrespeitam, acreditem que outro galo cantaria.

Já que estamos a falar de cuidados de saúde, é pertinente perguntar para quando um Centro de Saúde decente, em Sintra, para substituir o pardieiro onde ele está a funcionar há demasiados anos?
Os sintrenses estão a ser muito maltratados, não pelos médicos nem pelos enfermeiros mas pelos governantes.

Será que, unidos, não teremos a força suficiente para mudar este estado de coisas e obrigar quem nos governa a respeitar Sintra e os seus habitantes?
Claro que temos.
Assim nós queiramos.

Guilherme Duarte

Lendas de Sintra


João Rodil
Historiador

Sete Ais

Shahida era uma bela princesa moura, filha do senhor de Lisboa, ou Alisbuni, como se dizia na sua língua. O seu pai possuía um palácio muito acolhedor num lugar encantado que se chamava Xintara, nome bastante semelhante ao que hoje lhe atribuímos – Sintra.
Era ali, naquele pedaço do paraíso, que Shahida passava o Verão, sempre na companhia da sua aia Zarmina, uma núbia roliça que a vira nascer e que nutria por ela um carinho de mãe. Passavam agora a maior parte do tempo nos jardins do palácio, pois os moçárabes da região andavam bastante exaltados naquela época. Falava-se que o Conde Portucalense, D. Henrique de Borgonha, preparava uma incursão por aquelas bandas e, então, pairava no ar um cheiro a revolta no seio da comunidade cristã que era, a bem dizer, a maior parte da população.

Assim, a bela Shahida pouco se aventurava fora dos muros do palácio onde a guarda, por ordem de seu pai, mantinha a mais apertada vigilância. E tanto que ela gostava de passear nos bosques, alargar as vistas no alto da serra, cheirar a maresia no litoral escarpado e bravio. Contudo, mesmo com todos estes impedimentos, a princesa escapava-se sempre que podia, nem que fosse só para se embrenhar na mata de Almosquer, que ficava a pouca distância da vila.
Foi numa dessas fugas, depois de ludibriar a guarda e com a criada Zarmina a arrastar-se atrás de si, que, ao chegar à entrada do bosque, lhe saltou ao caminho um jovem cavaleiro. A aia, vendo que era cristão, quase desmaiou. Shahida manteve-se firme, de queixo levantado e porte altivo, enfrentando o infiel do cimo da sua nobre condição.
O jovem desmontou, calmamente, sem nunca tirar os olhos da princesa. Zarmina, que já recuperara do susto, agarrou num ramo podre e preparou-se para proteger a sua menina. Perante a figura caricata da velha ama, o cavaleiro deu uma grande gargalhada:
- Ah! Ah!... Sim senhora. Vejo que a menina se faz acompanhar por uma guarda inultrapassável! Mas não precisais de ter medo. Não costumo atacar mulheres. Para mais mulheres bonitas, como é o caso de vossa mercê!

E, dizendo isto, fez uma vénia. A criada, de olhos arregalados, onde o branco ocular mais se destacava na tez negra da sua pele, baixou o pau. Shahida puxou o véu para o rosto e retribuiu a vénia com um leve aceno de cabeça.
- Se és homem de paz, então, que Alá seja contigo!
- É melhor que ele fique convosco. Mas vale a intenção e essa, eu agradeço-vos. Dizei-me, agora, o que faz uma nobre senhora e sua dama sozinhas neste bosque e em tempos tão difíceis?
A simpatia do jovem cavaleiro já tinha conquistado a velha aia. Zarmina deixara cair o medo e exibia agora um sorriso meigo. Tinha bom porte e era formoso aquele cristão, achava ela. A princesa também parecia estar de acordo. A julgar pelo modo como o olhava, dir-se-ia até que ela não estava, apenas, fascinada com a beleza do moço.
- Viemos passear... E vós? Que fazeis por aqui, tão perto das tropas de meu pai?
- Esperava-vos, senhora!...
- A mim?!
- Sim, minha princesa. Desde o dia em que vos vi, apanhando flores no Jardim da Lindaraia, jamais vos esqueci.
Shahida voltou a puxar o véu e, de novo, cobriu o rosto. Mas os seus olhos negros já desmentiam aquele gesto de pudor. O atrevimento do cavaleiro ainda a cativou mais e, então, deixou cair o véu.
- Já vi que sois atrevido! E também tendes nome?
- Fernão...
E outra vez os olhos se encontraram. Os dele, azuis como o mar, pareciam ondas de brilho a querer invadir a negritude dos dela. Deixaram-se ficar, por instantes, ali sem dizerem nada, apenas se contemplando um ao outro num silêncio exterior que contrastava com o turbilhão de emoções que ambos experimentavam dentro de si.
De repente, Zarmina interrompeu-os:
- Senhora! Senhora, depressa que se aproximam cavalos!...
De facto, ouvia-se já o barulho dos cascos lá para as bandas dos Pisões. Fernão montou devagar, sempre olhando a princesa nos olhos e, na volta da montada, ainda rematou:
- Até breve, bela Shahida!
E nisto partiu a galope, entranhando-se na mata de almosquer. Instantes depois, apareceram os guardas do palácio. Procuravam Shahida. Ela deixou-se levar, com um sorriso nos lábios. Alguns guardas mais velhos até estranharam o comportamento da princesa. Não era hábito aceitar, com tanta calma e benevolência, as regras de segurança.

Fernão e Shahida nunca mais interromperam os seus encontros. E a paixão gerou o amor. Tinham eleito um outro local para estarem a sós. Ficava para lá da mata de Almosquer, ao fim de uns campos onde se semeava centeio. Aí, a serra fazia um parapeito sobre o vale do Rio das Maçãs. Era uma verdadeira varanda sobre o paraíso. A vista estendia-se até ao oceano. Em baixo, o rio serpenteando entre as hortas e pomares, sempre acompanhado da sombra dos freixos e dos salgueiros. A um canto do terreiro, amontoavam-se grandes penedos graníticos, formando uma espécie de concha. E foi nessa amplitude de horizontes e aconchego da terra que os dois jovens de amaram.

Contudo, nem tudo eram rosas para os dois namorados. Ali bem perto, num casebre entalado na encosta da serra, vivia uma bruxa terrível, a quem aquele amor puro e sincero afectava profundamente. Todos os dias via os dois amantes ao longe e jurava acabar com aquilo. E, um dia, decidiu esperar junto aos penedos onde eles se costumavam encontrar. Era pela tardinha. Shahida chegou primeiro, com a sua aia Zarmina atrás. Trazia uma roca de fiar, como modo de passar o tempo enquanto não chegava o seu amor. E a velha bruxa, que sentia no cavaleiro a bravura dos corajosos, viu na ausência dele uma bela oportunidade de colocar em marcha o seu plano diabólico. Aproximou-se das duas mulheres e disse, virando-se para a princesa:
- Tu, Shahida, achas-te feliz, não é?
Surpreendida com aquela afirmação, a moça nem respondeu.
- Pois essa felicidade muito em breve acabará!
Zarmina, que estava sentada junto da princesa ajudando-a na fiação, levantou-se num pulo.
- E tu, velha agoirenta, quem és tu? Não te ensinaram como se deve tratar uma princesa?
- Quem sou eu, não interessa. Aquilo que realmente importa, sobretudo a ti, Shahida, é que o teu cavaleiro em breve partirá para a guerra e de lá não voltará.
Ouvindo isto, a moça começou a chorar. Zarmina, ao vê-la tão triste, avançou para a bruxa aos gritos.
- Vai-te daqui, maldita!
Perante o ar ameaçador da aia, a bruxa começou a afastar-se. Mas, já de longe, ainda acrescentou por entre uma risada arrepiante:
- E tu, ó bela e vaidosa Shahida, vais largar ais de saudade! Pois aqui te juro, por Satanás, que te irás picar no fuso dessa roca e quando largares o sétimo ai, morrerás!...
Dizendo isto, a bruxa sumiu-se no matagal. Shahida chorava cada vez mais. Zarmina chegou-se a ela e retirou-lhe a roca das mãos. Mas a princesa, num gesto desprevenido, picou-se no fuso. E o pânico instalou-se, definitivamente, no seu coração. Para mais, o seu amor nunca mais aparecia! A pobre da aia desfazia-se em alentos, em palavras de consolação e de ânimo. Mas o frio que Shahida sentia por dentro, teimava em congelar-lhe a alma.
Fernão não apareceu naquele dia nem em outro qualquer. Zarmina soube por uma moçárabe que ele partira num fossado às terras do Al Garbe. E nessa tarde, junto aos penedos onde fora tão feliz, Shahida soube da notícia. A dor que sentia era de tal dimensão que não lhe cabia no peito. Então, foi suspirando ais saudosos que iam ecoando pelo vale. Ao sétimo, como profetizara a bruxa, morreu.
A partir desse dia fatídico, passou o povo a chamar Seteais àquele lugar. E ao coito dos dois amantes, Penedo da Saudade.

N.A.: A origem do topónimo Seteais tem levantado muita controvérsia ao longo dos tempos e várias são as interpretações. Por exemplo, Camilo Castelo Branco aponta a origem em «seto», ou terreno cercado por sebes. No entanto, a proposta mais aceite é a que nos oferece Francisco Costa. Diz este autor sintrense que o nome deriva de centeio, já que aquele local se encontra descrito em alguns documentos como sendo o «Campo de Centeais», o que se torna bastante plausível.

Extraído do livro "Lendas e Mitos do Monte da Lua"

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Os Bailes do Nosso Contentamento




Arte. Esplendor. Amor. Competição e trabalho. Muito trabalho. Estou a falar do tradicional Baile das Camélias.

Foi há 70 anos, em 1941, que se realizou a primeira edição deste evento que rapidamente se tornou numa das mais importantes festas de Sintra. A sala da Sociedade União Sintrense, o Garrett, era pequena para acolher as muitas e muitas centenas de pessoas que ali acorriam para se deslumbrar com o magnífico trabalho dos jardineiros sintrenses, para dançar ao som dos melhores conjuntos musicais e aplaudir alguns dos mais conceituados artistas nacionais.

Com a sala a “rebentar pelas costuras” a festa prolongava-se noite fora até de madrugada. Era curioso ver a multidão que aguardava nas ruas, ao nascer do sol, pelo primeiro autocarro da manhã e do primeiro comboio que os transportasse de regresso às suas terras.
Com o decorrer dos anos, com o declínio dos bailes nas colectividades e com aparecimento de novas fontes de diversão o Baile das Camélias começou a perder a importância que até aí tinha alcançado.

A deterioração da sala, a falta de dinheiro para fazer as obras que se impunham, a mudança de hábitos, o abandono a que algumas quintas foram sujeitas e o consequente número de cameleiras, que deixaram de ser tratadas e o quase desaparecimento dos jardineiros que se interessavam por esta festa deram ao Baile das Camélias a machadada final, ao ponto de durantes alguns anos não se ter realizado.

A Câmara Municipal de Sintra, de há alguns anos a esta parte, em concertação com a direcção da Sociedade União Sintrense, recuperou esta tradição e os bailes foram retomados, embora sem o fulgor de tempos passados.

As camélias são muito menos e os jardineiros também, mas o importante é que a festa continua e tem vindo a melhorar de ano para ano.

No passado dia 19 de Março, (dia do pai), a data tradicional para a realização deste evento, o Baile das Camélias voltou a chamar muito público à sala do velhinho Garrett . Progressivamente a arte e o esplendor regressam a esta prestigiada colectivade. Falta que regressem em força também os jardineiros e as camélias.

Também o Baile da Rainha, outra velha e prestigiada tradição sintrense ligada à Sociedade Filamónica os Aliados, vulgarmente conhecidos como “Os Caracóis”, foi este ano reavivado esperando-se que tenha sido o ponto de partida para a recuperar completamente e voltar a conquistar a grandiosidade que teve e o interesse e o carinho que os sintrenses sempre lhe dedicaram.

Sintra precisa de recuperar as tradições perdidas. O executivo camarário está empenhado em consegui-lo falta apenas que a população responda com a sua presença maciça nestas realizações.
As tradições são um património importante. Um património cultural e um testemunho da nossa identidade e das nossas raízes que não podem ser perdidas.

Guilherme Duarte

III ENCONTRO SOBRE O CULTO E AS FESTAS DE N.ª S.ª DO CABO ESPICHEL




No âmbito das festas de despedida de N.ª S.ª do Cabo Espichel, que terão lugar de 3 a 17 de Setembro do corrente ano, em Sintra, na Freguesia de Santa Maria e S. Miguel, vai a respectiva comissão de festas promover a realização do III Encontro sobre o Culto e as Festas de N.ª S.ª do Cabo Espichel.

O encontro, que terá lugar no dia 14 de Maio no auditório dos Serviços Municipalizados de Água e Saneamento, em Sintra, tem como objectivos fundamentais:
- Reflectir sobre a origem e o culto a N.ªS.ª do Cabo Espichel;
- Trocar de impressões sobre os festejos realizados em cada freguesia por ocasião da recepção e despedida da veneranda imagem de N.ª S.ª do Cabo Espichel;
- Motivar investigadores e discentes para a elaboração de trabalhos académicos sobre o culto e as festas de N.ª S.ª do Cabo Espichel;
- Reunir os paroquianos que têm, directa ou indirectamente, ao longo dos anos, participado na organização das festas – religiosas e lúdico-culturais – de N.ª S.ª do Cabo Espichel.

Serão abordados, durante o Encontro, entre outros, os seguintes temas: A origem e o culto de N.ª S.ª do Cabo Espichel, organização e funcionamento da confraria, os círios, o «giro dos saloios», as loas, o tesouro, as festas de solteiros, o interregno das festas de 1910 a 1925 e o Santuário do Cabo Espichel

Podem inscrever-se no colóquio os paroquianos que exerceram, na organização das festas de N.ª S.ª do Cabo Espichel, as funções de juiz, mordomos e membros das respectivas comissões, bem como membros do conselhos paroquiais, paroquianos em geral e quaisquer interessados nos temas em referência.

Guilherme Duarte

As inscrições podem ser feitas através do e-mail f-herminiosantos@hotmail.com, do telemóvel 968.060.400 ou do seguinte endereço postal: Comissão das Festas de N.ª S.ª do Cabo Espichel, Rua Particular à Veiga da Cunha, n.º 6, 2.º, 2710-606 Sintra.